Alice

Curiosa
e vaidosa.Corre,
procura
e se arrisca. Destrói o real
se refugiando
no imaginário.Seres
que nunca falaram,
de repente começam
a lhe ajudar
ou atrapalhar.
Loucos,
sorrisos,
gargalhadas,
mesa do chá
e a deselegância.
Metamorfose,
aprendizado
e muita fumaça.
Cresce
e diminui,
ganhando
e perdendo o poder.
Percebe que sua esperteza
chegou nos limites.
Foge.
Tenta reconstruir o real,
briga consigo mesma.
E acorda.
Alice,
descobre
que não existe lugar perfeito.
Sempre há um defeito.
Mesmo nas Maravilhas
têm espinhos.

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Marionetes

Por meio de fios quase invisíveis,
o dono tenta manipular
sua população de bonecos.
Alguns aceitam todos os seus comandos
outros criam vida própria,
se rebelam e arrebentam os fios.
O manipulador fica sem reação própria,
usa os bonecos que lhe restaram
contra os rebeldes.
Os reais,
ao invés de guerra
ensinam os manipulados,
o que é liberdade.
Assim, o manipulador não tem
mais nenhum boneco para controlar.
Fica afastado.
Aparecem outros manipuladores
de olho na população,
fazem promessas magníficas,
para que os bonecos voltem
a usar fios.
Mas agora cheios de opiniões,
os que um dia foram manipulados,
não aceitam mais.
Colocam para governar libertos
que sabem a verdadeira situação
da população.

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Caindo

Como se a gravidade
não existisse mais.
Meu corpo leve,
girando tão rápido,
que nem a física pode explicar.
Ninguém pode me segurar.
Ninguém pode me ajudar.
Um abismo sem fim.
Pensamentos e lembranças se misturam.
Já não diferencio o não do sim.
Caindo.
Cabelos desgrenhados,
agora olhos arregalados.
Ainda não sei como caí
e se algum tempo isso vai terminar.
 

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Verbalizar

Ver,
pensar,
caminhar,
pensar,
falar,
sair,
caminhar,
pensar,
chegar,
entrar,
sentar,
pensar,
lembrar,
pensar,
modificar,
pensar,
imaginar,
pensar,
escrever,
pensar,
criar,
ler,
decorar,
atuar,
pensar,
expressar,
pensar,
encenar,
pensar,
finalizar,
aplaudir,
sorrir
e agradecer.
 

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Ônibus

Abri a porta,
sai gente,
entra gente
e pagam.
Senta gente,
levanta gente
e balançam de um
lado pro outro.
Entra mais gente
e não sai ninguém.
Aperto,
mistura de odores,
claustrofobia
e estômagos embrulhados.
Caminho longo,
e ninguém sai.
O ônibus chega à estação.
Parada abrupta,
gente se desiquilibra.
As portas se abrem,
tumulto de gente saindo
e entrando.
E a gente não para.

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O bobo

Coçava a cabeça com tanta força,
parecendo que queria arrancá-la.
As unhas sujas, as mangas de seu
moletom velho e manchado estavam puídas
assim como a gola.
Aquela coceira infernal não parecia ter fim,
agora se contorcia e gritava.
Parou.
Começou a balançar para frente e para trás,
em movimentos rápidos, parecia bobo.
Balançava.
Parou de novo.
Olhou para mim, como se me conhecesse,
seus olhos se iluminaram de razão.
Devagar como um animal, se escondendo,
chegou bem perto e tentou falar algo,
saíam gruídos indecifráveis.
Os enfermeiros, o levaram para seu quarto,
porque tinha começado a me bater com um livro
por não entendê-lo,
os olhos de razão haviam se transformado em desespero.
Peguei o livro que havia caído no chão,
e me deparei com a foto do bobo que me bateu.
Era o autor de um best-seller,
que ajudou milhões de pessoas.
Ás vezes, as pessoas que mais têm a oferecer para o mundo se tornam incapazes de ajudar a si próprias.

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Mais experiência

Cabelos brancos,
olhos experientes e
esperança de uma vida saudável
e feliz.
Os idosos
são os espelhos do amanhã
para cada pessoa.
Devem ser ouvidos,
para que seus conhecimentos
sejam passados para
as futuras gerações,
que as repassarão.
Muitos se emocionam
com os maltratos
que eles são submetidos,
mas pouco é feito para ajudá-los.
Devem ser respeitados
e tratados como os sábios
de várias culturas.
Eles querem amor
e compreensão.

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